Quando lastimamos o estado do nosso sistema de educação, não nos serve de muito apelar a "uma escola de excelência" se não fizermos algum esforço para pormenorizar em que ela consiste. Para não reduzirmos o conceito a um mero slogan, é preciso dar-lhe algum conteúdo tangível.
Obviamente que não se trata só de ter escolas bem equipadas, bem administradas e dotadas de professores competentes. Talvez essas sejam algumas das condições fundamentais da excelência, mas não a sua expressão prática.
A excelência exprime-se nos resultados obtidos. Ora a noção de resultados não pode restringir-se a estatísticas animadoras nas pautas de classificações, ou nas percentagens relativas a aprovações e reprovações, ou na quantidade de alunos que cada escola consegue fazer transitar ao escalão seguinte. Tão-pouco a qualidade de um estabelecimento de ensino pode ser avaliada apenas em função da sua posição num ranking nacional viciado e artificial, incapaz de controlar e medir todas as variáveis envolvidas no respectivo desempenho. Tudo isso não passa de fogo de artifício para o indígena ver.
Sabendo nós todas as manigâncias criativas que a regulamentação escolar e a própria prática dos estabelecimentos conseguiram introduzir na avaliação da aprendizagem, a fim de evitar reprovações e inflacionar resultados, seria pueril tentar confundir a excelência destes com a média geral das classificações.
A avaliação quantitativa com que os estudantes conseguem desenvencilhar-se de programas cada vez mais aligeirados e de testes cada vez mais facilitados diz-nos muito pouco sobre o nível real dos conhecimentos e competências com que terminam cada ano lectivo, cada ciclo de estudos, cada grau de ensino. Mas a experiência e o bom senso dão-nos a impressão certeira de que as classificações atingem médias cada vez mais elevadas, enquanto os conhecimentos reais dos alunos não param de se empobrecer. Uma tendência que só poderá agravar-se com essa ideia inspirada e peregrina de o desempenho dos professores passar a ser parcialmente avaliado em função das classificações obtidas pelos seus alunos.
Uma escola de excelência começa por recusar-se a embarcar neste logro. Exige de si própria um elevado nível de transmissão real de conhecimentos e não um mero aparato de classificações inflacionadas e de estatísticas enganadoras. Avalia na íntegra os programas que lecciona e não apenas a sua parte mais fácil. E lecciona na íntegra os próprios programas, não poupando os alunos ao que é complexo, mas necessário. Não atribui as boas notas ao desbarato, antes obriga os estudantes ao esforço, à persistência, ao método e à sistemática elucidação das dúvidas. Valoriza o mérito, distingue-o, enfatiza-o. Fornece os meios para vencer as dificuldades, mas não as elimina. Não deixa acumular falhas e deficiências nem faz de conta que as resolveu. Encaminha cada um para aquilo que lhe é acessível, mas não nivela por baixo. E ensina aos seus alunos que vivem num mundo muito competitivo e que têm de esmerar-se para ficarem aptos a enfrentá-lo. Ensina a responsabilidade, a pontualidade, a assiduidade, a disciplina, o respeito formal por quem sabe ou manda, a entreajuda, a disciplina, a metodologia adequada, a vontade de superar dificuldades.
Não tenham pena deles. Os estudantes conseguem sobreviver a tudo isso.