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quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Imigração sofrida ou imigração escolhida?

Terão razão as várias lengalengas humanitárias que se rebelam contra a recusa de um visto de permanência no país a muitos dos estrangeiros que o solicitam? Será assim tão condenável escolher aqueles a quem damos permissão para ficar?
O objectivo de uma imigração selectiva não é penalizar preconceituosamente certas categorias de imigrantes, seja pelas suas origens étnicas ou convicções religiosas, seja por desfasamentos linguísticos ou falta de qualificações profissionais. Não se trata essencialmente de afastar, denegrir, recusar, embora essas possam aparentemente surgir como consequências incontornáveis, porque quando se escolhe algo, rejeita-se algo, quando se valoriza uma opção, desvaloriza-se outra.
O objectivo de uma imigração selectiva é promover um equilíbrio interno: entre a procura afluente de trabalho e a oferta disponível, entre as competências requeridas pelos empregadores e as qualificações comprovadas pelos potenciais candidatos, entre as carências regionais e os afluxos territoriais de mão-de-obra, entre as necessidades previsíveis e os contingentes admitidos, entre a cultura anfitriã e os costumes sociais dos recém chegados, entre as leis vigentes no país e o grau de predisposição conhecido das várias comunidades estrangeiras para acatá-las, entre as diversas expressões linguísticas divergentes e a defesa intransigente da língua nacional unificadora. Além do mais, porque essa distinção também conta, é indispensável velar por critérios de alguma proporcionalidade razoável entre a imigração com motivação laboral e a de simples reagrupamento familiar.
Há equilíbrios demográficos, religiosos, étnicos, culturais, económicos e linguísticos a preservar. O fluxo indiscriminado de gentes das mais variadas proveniências e civilizações pode fragilizá-los ou até destruí-los. Esses equilíbrios foram penosamente conseguidos após séculos de dolorosas vicissitudes históricas. Não passa pois de pura inconsciência colocá-los levianamente em risco, omitindo de propósito o facto de que nem todas as imigrações são iguais, nem na sua composição nem nos seus efeitos.
Aqueles que ingenuamente defendem que os países abastados deveriam limitar se a abrir escancaradamente as fronteiras a todos os desesperados e ambiciosos que anseiam encontrar acolhimento e trabalho bem pago, seja com que sacrifícios for, esquecem a colossal desproporção entre os recursos escassos de cada economia e os muitos milhões de interessados em procurar nela o seu recanto providencial, ou entre a limitada capacidade de absorção das nossas culturas consolidadas e a extrema incomodidade e virulência de certos costumes invasores, isto para já não falar dos inevitáveis recuos na segurança interna e nos níveis de civismo.
Deveria ser claro para todos que a Europa não pode albergar todo o Terceiro Mundo, nem sequer uma parte significativa dele. A dupla solução consiste em seleccionar dentro e investir fora. Em escolher a imigração que nos convém e promover mais desenvolvimento e oportunidades na sua terra para os que não podem vir e ficar. Que mais de razoável se pode fazer além disto?

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Política de imigração

Como deveria ser evidente, a política de imigração não é somente a gestão dos fluxos migratórios. Nela se inclui também a política de integração.

Mas desfaçamos equívocos. Gerir os fluxos migratórios não se reduz ao esforço de controlar, contabilizar e regularizar os imigrantes que vão chegando ou ficando, mesmo acrescentando-lhe o esforço adicional de lutar contra a imigração clandestina. O país tem de escolher qual a imigração que lhe convém, seleccionar as suas origens e qualificações, fixar contingentes, regular a composição diversificada e influenciar a distribuição geográfica das correntes migratórias.

Contra o caos existente, não é solução aceitável optar por uma regularização global de todos os clandestinos. Não só isso constituiria um incitamento velado a uma massa crescente de aventureiros e desesperados predispostos a migrar ilegalmente, como significaria o Estado render-se a uma situação de facto e renunciar ao seu dever de selecção criteriosa. Esse tipo de falsa generosidade humanista, afectando ares de boa consciência, não é mais do que a máscara política da cobardia em enfrentar um problema que se deixou avolumar durante demasiados anos e alimentar-se da própria incúria. As regularizações são mais fáceis que as expulsões, sob todos os pontos de vista, daí que saiam agora da cartola como remédio de emergência.

Abrir as portas quase indiscriminadamente ao chamado "reagrupamento familiar" dos imigrantes é outra parvoíce. Significa acrescentar aos muitos indesejáveis que já cá estão um número ainda maior de indesejados, convidá-los a proliferar pelo afluxo e pela procriação #in loco#. Dificilmente se poderia inventar coisa melhor para agravar ainda mais aceleradamente os crescentes desequilíbrios demográficos. E o raciocínio vale, por maioria de razão, para os imigrantes que provêm de outras zonas linguísticas.

A política dura e selectiva que vai ser seguida em França, tradicional país anfitrião, deveria servir-nos de modelo. O Estado deveria fixar para cada ano o número e a composição étnica dos estrangeiros que o país esteja realmente em condições de acolher dignamente. Deveria condicionar a vinda dos imigrantes a uma garantia prévia de trabalho e alojamento, evitando a proliferação da delinquência e de bairros degradados nos subúrbios. Deveria proibir o regresso por um período muito alargado, ou até definitivamente, a todos os que sejam apanhados em situação ilegal, reconduzidos ao seu país ou condenados em processos criminais. Todos os candidatos a uma autorização de permanência ou residência deveriam vincular-se explicitamente e por escrito a respeitar as leis, os costumes, os símbolos e os valores constitucionais do país anfitrião. E todos os imigrantes já em situação regular e definitiva não deveriam ser autorizados a trazer a sua família mais chegada senão na medida em que demonstrem ter capacidade financeira para a sustentar e alojar decentemente e aquela, antes de penetrar no nosso território, faça prova de ter adquirido já uma capacidade pelo menos rudimentar de falar e escrever o português. Analogamente, a ninguém deveria ser permitido instalar-se duravelmente no país sem se dar ao esforço de dominar a língua, falada e escrita, ou sem se comprometer a isso num prazo definido.

Assim se defende a identidade nacional e se propicia a integração dos que a merecem. O resto é demagogia.

O impacto das migrações

É conhecido o ditado segundo o qual cada um vê apenas o que quer ver. E a sabedoria popular, na sua eterna ânsia de generalizações, logo acrescenta que o que cada um quer ver é apenas o que lhe convém.

Nada me parece mais errado. Seria menosprezar o papel da ignorância, da superficialidade, das convicções grosseiras e apressadas que o senso comum é exímio em urdir. De facto, muitas das coisas que se pensam erradamente nada têm a ver com o interesse pessoal ou a parcialidade deliberada. Derivam, muito simplesmente, de uma óptica deficiente das coisas.

Não há grandes motivos para excluir em absoluto destas considerações o muito que se tem dito e escrito sobre as migrações. As fontes de erro, neste caso, continuam a ser essencialmente as do costume; as suas consequências, essas é que podem vir a ser muito piores em grau do que o habitual.

Muita gente bem-intencionada tem preferido ver nos fenómenos migratórios apenas deslocações massivas de populações fugindo à miséria, providenciais acréscimos de mão-de-obra e de vitalidade demográfica nos países anfitriões, miscigenação cosmopolita de culturas, et cetera. A outra face da mesma moeda consiste em desvalorizar o choque de civilizações, a explosão da criminalidade, o aumento notório da insegurança, a proliferação dos bairros suburbanos degradados, o recrudescer da conflitualidade civil. De um modo geral, recusa-se associar uma coisa à outra ou, em alternativa, condescende-se em aceitar que tais consequências indesejáveis não passam de um pequeno mal necessário e transitório que terá o seu fim com a fatal integração futura dos imigrantes. E como sustentáculo comum destas suposições, qual cereja em cima do bolo, encontramos o pressuposto dogmático de que as várias culturas são apenas diferentes, mas não incompatíveis.

Porque não é politicamente correcto, apesar de óbvio, torna-se hoje difícil sustentar que as migrações não são todas iguais, nem na sua composição nem nos seus efeitos. Porque o que isto quer realmente dizer não é tão-só que elas são diversas e contrastantes, mas que provêm de regiões com níveis de civilização distintos. E conforme estes sejam mais ou menos atrasados, sob múltiplos aspectos, varia enormemente o seu impacto.

Uma das consequências das migrações incontroladas tem sido o de infectar sociedades evoluídas com focos perigosos de retrocesso civilizacional. As sucessivas ondas de imigrantes não assimilam ávida e apressadamente os padrões culturais e cívicos dos países anfitriões; pelo contrário, destilam para eles, de um modo persistente e duradouro, as influências multifacetadas do seu atraso, num grau mais do que proporcional ao crescimento da sua expressão demográfica.

Quando chegam, os imigrantes não trazem apenas mão-de-obra e aumento populacional, trazem também mentalidades, preconceitos, atitudes, costumes, intolerâncias, violências e conflitos que as sociedades evoluídas nem sequer estão bem preparadas para enfrentar, porque lhes são culturalmente estranhos e institucionalmente desajustados. Esse é o perigo.

sábado, 27 de maio de 2006

O perigo do retrocesso

Cada época alimenta os mitos que quer, as ilusões que precisa. E acalenta também os erros que constituem, um após outro, a moda bem-pensante das elites ou do vulgo.
Parecendo indiferentes às ilusões e às modas, os factos são o que são, mas na verdade deixam-se levar pela mão ou pela arreata, ora num sentido ora noutro. Não deixam de ser o que são, mas o seu rumo é-lhes imposto ou simplesmente consentido.
Hoje em dia acredita-se piamente que só há evolução social e material num sentido: o do progresso. E apesar de haver várias tendências que o puxam constantemente para direcções diversas e inconciliáveis, permanece a ideia algo confusa de que, quer a direcção seja uma ou outra, progresso sempre haverá.
Nada mais ilusório. Basta estudar a História para saber isso. As culturas podem retroceder ou sucumbir. Os valores e os costumes podem entrar em declínio. A prosperidade material pode decair. Até os impérios colapsam.
Mas hoje é politicamente incorrecto ensinar, por exemplo, que a civilização romana tenha sido destruída pelos bárbaros. Porque não há "bárbaros", há apenas povos com outros costumes, outras culturas; e, grosso modo, nenhuma civilização é superior às outras, sobretudo de um ponto de vista cívico e moral. Portanto, também não há "invasões bárbaras", há apenas movimentação de populações. E não há que comparar culturas, dizem-nos, porque as não há melhores nem piores, elas são apenas diferentes. Por isso temos que ser tolerantes, e pronto. Fim de conversa.
E se não for bem assim? E se algumas das sociedades avançadas de hoje estiverem a ser paulatinamente deglutidas por migrações "bárbaras" de povos subdesenvolvidos, que em vez de se integrarem nos padrões éticos e cívicos dominantes, dificilmente alcançados após um percurso de gerações ou séculos, apenas estejam a subvertê-los, a corroê-los e, nalguns casos, a erradicá-los? Que acontecerá enfim se as diferenças culturais não estiverem apenas a criar mais diversidade e colorido (mais cosmopolitismo, digamos) e sim a baixar a fasquia, os padrões, o nível dos valores aceites e dos costumes praticados?
Averiguemos pois, se queremos ser isentos. A delinquência e a criminalidade estão ou não a subir? E porquê? E por causa de quem? A confiança entre as pessoas está ou não a diminuir? E que razões há para isso? A insegurança geral é atribuída a quê? E a quem se aponta o dedo? Quais os aspectos em que o cidadão comum se queixa de que a sociedade andou para trás?
Se as conclusões de um tal inquérito, feito este com verdadeiro rigor e isenção, não forem exactamente aquelas que são dogmaticamente sustentadas, à revelia dos factos, pelas diversas modalidades intelectuais do "politicamente correcto", então acautelemo-nos: podemos estar à beira de um retrocesso cultural, talvez não no sentido intelectual do termo, mas sobretudo no sentido em que certos valores e padrões cívicos estão seriamente ameaçados.
Pergunta final: ainda há quem se preocupe com isso?

terça-feira, 14 de março de 2006

Tolerância e incompatibilidades culturais

Tanto nas discussões de café como nas querelas jornalísticas, tanto nos debates televisivos como nos anfiteatros universitários, é difícil fazer aceitar a ideia de que o respeito e a tolerância entre civilizações não implicam necessariamente a sua compatibilidade ou a sua coexistência pacífica.
A ideia que prevalece é a contrária: desde que duas perspectivas culturais diferentes se respeitem mutuamente, podem conviver entre si sem problemas.
O que, infelizmente, não é verdade em todos os casos. Porque algumas culturas são hipersensíveis às manifestações normais de outras, e portanto a sua proximidade gera tensões e atritos. Como agravante, o alcance intercontinental dos actuais meios de comunicação veio acrescentar uma nova dimensão ao problema: agora, mesmo as manifestações normais de uma cultura, nomeadamente ao exercerem o seu direito de crítica sobre as restantes, podem ser, mesmo a grande distância, fonte desses atritos e tensões. É o que vimos acontecer com o episódio extremamente revelador das caricaturas de Maomé publicadas na Dinamarca, que provocaram manifestações e motins em quase todo o mundo muçulmano.
Imaginemos que cada um de nós tem o maior respeito pelas diversas culturas islâmicas. Significa isso que não nos importamos de tê-las ao pé da nossa porta? Até ver, uma coisa não implica a outra. Significa que, mesmo a contragosto, nos devemos dispor a aceitar a sua vizinhança? Também não. Significa que, por recíproco respeito pelas nossas nuances culturais, os imigrantes vão querer praticar os nossos costumes e tradições em vez dos seus? Muito menos.
A atitude recíproca de respeito entre as diversas culturas, mesmo quando existe, não resolve as suas incompatibilidades. E não resolve, logo para começar, as insolúveis.
É possível, numa mesma sociedade, conseguir uma perfeita coexistência entre os nativos que defendem a absoluta igualdade de direitos das pessoas e os imigrantes que querem pôr em prática direitos diferentes conforme o sexo e a religião? Entre os que defendem o direito da mulher ao prazer sexual e os que praticam a mutilação genital feminina? Entre os que proíbem a justiça por suas próprias mãos e os que se sentem obrigados pela sua tradição a cometer os chamados "crimes de honra"? Entre os que há muito separaram a Igreja e o Estado e os que não conseguem conceber nem isso nem a política separada da religião? Entre os que se habituaram a viver no meio da diversidade confessional e do ateísmo e os que ainda estão predispostos a condenar à morte os hereges e os apóstatas? Entre os que aceitam sem violência que se possa caricaturar Deus e os que provocam motins por se caricaturar um profeta? Entre os que condenam a bigamia como crime e os que reivindicam a poligamia como um direito religioso? Entre os que acatam um horário de trabalho estandardizado e os que exigem cinco pausas diárias para a oração? Entre os que respeitam a plena liberdade das mulheres e os que pretendem mantê-las em situação de perpétua menoridade jurídica? Impossível. Não há nenhum sistema legal que possa acolher tão diferentes sistemas de valores e dar-lhes igual protecção jurídica e policial. Alguns valores são absolutamente incompatíveis.
Enquanto uma cultura imigrante tem uma expressão reduzida e vive acantonada em bairros étnicos, a coisa passa. Quando atinge uma expressão demográfica tal que já reivindica direitos de cidadania em moldes completamente diferentes dos que nós praticamos, a coisa muda de feição.
Cuidado, portanto. Os imigrantes problemáticos reproduzem-se a uma taxa muito superior à nossa e os ilegais continuam a entrar facilmente pelas nossas fronteiras escancaradas.

sexta-feira, 3 de março de 2006

Incentivos e sanções

Pode ser que os remédios propostos para apaziguar os tumultos e os demais desacatos dos imigrantes problemáticos, sejam eles muçulmanos ou outros, façam algum sentido para políticos e ideólogos, assim como para jornalistas e simples intelectuais. Para psicólogos ou economistas, habituados que estão a raciocinar em função de incentivos e sanções, não fazem sentido absolutamente nenhum.
De cada vez que eclodem os motins ou as pilhagens, as manifestações violentas ou os vandalismos, os governos e as câmaras municipais tentam acalmar os ânimos prometendo aos imigrantes mais benesses, mais subsídios, mais incentivos, mais facilidades legais, mais investimentos, desde bolsas e empregos para os jovens até investimentos avultados na formação profissional ou nos bairros degradados.
Quanto ao conteúdo das promessas, pode não haver nada contra a dizer. Quanto à oportunidade, dificilmente o timing poderia ser mais desastroso. Porque a mensagem que assim se transmite é bem clara: provoquem desacatos, pois é com eles que conseguem mais vantagens; provoquem destruição, pois prometer-vos-ão este mundo e o outro para acabar com ela. Por outras palavras: a violência compensa. E a evidência disso está no facto de ela ser imediatamente recompensada. Sem pensarem muito nisso, os poderes públicos distribuem assim incentivos à violência nesses períodos de crise.
O que deveriam fazer era distribuir sanções severas. A resposta adequada a tumultos, motins, destruições e pilhagens deveria ser, para além das medidas policiais apropriadas e imediatas, a expulsão sistemática dos arruaceiros e dos instigadores à violência, o cancelamento das autorizações de residência aos seus familiares em primeiro grau, o endurecimento dos critérios selectivos da imigração, a perda da nacionalidade adquirida para os que se mostrem indignos dela. É com sanções pesadas e dissuasoras, e não com recompensas demagógicas e contemporizadoras, que se apazigua a violência. Em caso algum se pode premiá-la com benesses, mostrando que com ela se conseguem resultados positivos.
E é nos períodos intermédios, ou seja, nos tempos relativamente pacíficos entre crises, que se devem pôr em prática com mais afinco as medidas sociais que conduzam a uma melhor integração dos imigrantes que querem realmente integrar-se nas nossas sociedades. Mas isto implica, para que não se delapidem recursos de forma contraproducente, perceber e detectar quais são os imigrantes que não pretendem de facto integrar-se, mas apenas parasitar as oportunidades oferecidas por uma sociedade mais próspera que aquela a que corresponde a sua origem étnica.
Sublinho: não podemos ajudar a integração dos imigrantes indesejáveis, devemos é descartar-nos deles. Ponto final.

sábado, 25 de fevereiro de 2006

A miragem da integração

Face aos tumultos e às violências de vários géneros e origens que muçulmanos fanáticos têm desencadeado, um pouco por toda a parte, contra interesses e embaixadas e símbolos ocidentais, por um motivo tão bizarro quanto o são umas meras caricaturas de um profeta, parece que algo de novo começa a surgir nas consciências europeias.
Em primeiro lugar, o medo de assumir os seus princípios básicos e comuns, por causa das retaliações islâmicas e dos motins de rua. Desde que eles começaram, não pouca gente apareceu entretanto disposta a sacrificar a liberdade de imprensa, o direito à crítica religiosa e à livre expressão de ideias anticonfessionais. Em suma: disposta a acolher um recuo intelectual e jurídico de três séculos, pelo menos, até ao período pré-iluminista. A Europa está visivelmente intimidada com a violência dos muçulmanos e isso não é bom sinal, nem para nós nem para eles.
Em segundo lugar, já se diz que estamos a assistir à queda do mito do multiculturalismo, que a Europa pós-politicamente correcta começa agora e ainda que a Europa perdeu definitivamente a inocência. Era bom que assim fosse…
Mas permito-me discordar. Os preconceitos não cedem assim tão facilmente. O mito do multiculturalismo sofreu agora um importante revés, mas ainda está para durar. O politicamente correcto, como todos os sistemas de tabus entrelaçados, vai aguentar de pedra e cal. E até a inocência europeia arranjará maneira de sobreviver a esta escandalosa violação dos seus princípios, nem que seja reconstruindo discretamente o hímen da sua hipocrisia.
A prova mais concludente está nas soluções para a crise que muitas mentalidades bem pensantes, desde políticos e sociólogos até jornalistas e pessoas comuns dotadas de opinião aparentemente própria, propõem de novo aos quatro ventos. E sem se darem conta, até algumas cabeças independentes se deixam resvalar para o mesmo atoleiro de conceitos, prognósticos e terapêuticas.
Diz-se, por exemplo, que fechar as fronteiras deixou há muito de ser uma solução e que a saída que nos resta é a plena integração dos imigrantes recalcitrantes, com tudo o que isso implica. E o que implica, logo se esclarece em ladainha ritual, é o acesso à educação e ao emprego em perfeita igualdade de circunstâncias, para que se sintam iguais socialmente e para que se lhes possa exigir, como dever de reciprocidade, o respeito pela lei das sociedades em que vivem (o que parece significar que, noutras circunstâncias, já não se lho pode exigir!). Outros opinam, mais afoitamente, que é preciso facilitar ainda mais as autorizações de residência e o acesso à nacionalidade. Ora tudo isto não é ainda tão deliciosamente multicultural?
O problema não está em facilitar ou subsidiar ainda mais a integração dos imigrantes problemáticos. O problema, entenda-se de uma vez por todas, está em que uma larga percentagem deles não quer de facto integrar-se, mas sim implantar ou infiltrar na nossa cultura os valores e os procedimentos da sua. Muitos deles querem usufruir dos benefícios económicos que a nossa maior prosperidade lhes possa proporcionar, mas não querem assimilar as nossas regras éticas e cívicas. Querem ter a oportunidade de ganhar mais dinheiro e de consumir mais, não querem aprender nem respeitar as nossas leis e costumes. Quando muito, pretendem integrar-se economicamente, mas não socialmente. Quanto a normas sociais, querem conservar as suas de origem; as nossas, contornam-nas como podem, infringem-nas quando lhes apraz.
E quem são essas comunidades de imigrantes maioritariamente refractárias à assimilação? Em Portugal, são as mesmas do costume. Os outros imigrantes integram-se sem problemas de maior, na sua maioria, desde que encontrem trabalho. Noutros países anfitriões europeus, as comunidades problemáticas são também as do costume. Mas, tal como aqui, é tabu dizê-lo em voz alta. Também não é indispensável nomeá-las: toda a gente sabe quais são.
Que fazer? Não adianta oferecer mais possibilidades de integração a quem assumidamente não quer integrar-se, mas hostilizar e fazer vergar a cultura anfitriã. O problema não é deles, porque sabem o que querem: prevalecer. E sabem que o podem conseguir cada vez mais pela via demográfica ou pela pressão demagógica, ou por ambas. O problema é nosso, que temos tanto medo de ser acusados de racismo ou xenofobia que já não somos capazes de excluir ninguém, nem sequer de falar nisso abertamente. Temos até pruridos em falar de uma imigração selectiva.
Infelizmente, a questão é mesmo essa: temos de começar a mandar embora os indivíduos indesejáveis e a impedir drasticamente a vinda de outros. E começar, sem apelo nem agravo, pelos que incitam à violência e à intolerância agressiva. De contrário, as coisas só vão piorar.
Pergunta final: quantas vezes precisaremos de ser violados cívica e culturalmente, nós europeus, para perdermos de vez a inocência?

domingo, 4 de setembro de 2005

A questão da nacionalidade

Afirmar que quem nasce em território português tem direito automático à nacionalidade portuguesa significa – nada mais, nada menos – confundir os conceitos de naturalidade e de nacionalidade.

A questão é esta: o facto de nascer em determinado território é quanto basta para pertencer a uma determinada nação? Não é necessário desenvolver um sentimento pessoal de pertença? Não é necessário partilhar os valores e os símbolos básicos dessa nação? Não é necessário tornar-se ou sentir-se membro de uma determinada cultura que, de forma intuitiva ou explícita, é identificada nos seus traços essenciais como "nacional"?

Se disséssemos que nada disto é necessário, chegaríamos à absurda conclusão de que uma nação apenas se define pelo território. O sentimento de coesão de um povo, a partilha de símbolos e valores básicos, a ligação a uma certa memória histórica teriam perdido todo o significado.

Será a nacionalidade apenas isso, a consequência a aleatória de se ter nascido em determinado local? Se chegámos a esse ponto, a nacionalidade portuguesa acabou e andamos todos equivocados. Venham daí os espanhóis e fiquem com isto de vez.

Pela minha parte, vejo as coisas de outro modo: nascemos no seio de determinada familia e são as ligações afectivas que nela desenvolvemos, a língua e os valores que nela aprendemos, as regras de conduta que nos são ensinadas, os valores fundamentais que nos são transmitidos e a memória histórica que nos é desvendada que formam gradualmente o nosso sentimento de pertença (ou seja, a nossa nacionalidade). A escola reforça e complementa esta impregnação cultural, mas não a substitui e é raro que se lhe sobreponha. Em caso de conflito, a influência familiar e étnica predomina sobre a influência escolar e comunitária.

Quem nasce no seio de uma família portuguesa, mesmo no estrangeiro, irá ser impregnado de traços culturais portugueses – e não indianos, chineses ou quimbundos. As influências locais, quando divergentes das familiares, ajudarão quando muito a constituir uma identidade mista. Ser-se-á então luso-qualquer-coisa. O que se passa numa família estrangeira em Portugal, ou ex-estrangeira porque naturalizada, será um caso diferente? Se as ligações familiares e étnicas tendem a ser mais fortes, o mais que se poderá esperar é produzir mestiços culturais.

Vem daí algum mal ao mundo? Depende da percentagem e do impacto. Ter quatro ou cinco por cento de mestiçagem cultural não é o mesmo que ter dez ou vinte por cento. E o impacto sociológico de uma certa percentagem de hibridismo não é idêntico para todas as origens e proveniências. Toda a gente de bom senso sabe isso.

Pior ainda é que o conceito de mestiçagem não evidencia qual a influência cultural predominante. Mas basta assistir a certos jogos internacionais de futebol e ver o nosso hino assobiado, a nossa bandeira nacional cuspida e reparar por quem torcem os vários sectores da assistência para se perceber quem é português e quem é estrangeiro, mesmo que naturalizado.

A concessão da nacionalidade não altera automaticamente o sentimento nacional originário e as fidelidades étnicas de quem a recebe, mesmo que atribuída à nascença. Cuidado com tais equívocos.