Tanto nas discussões de café como nas querelas jornalísticas, tanto nos debates televisivos como nos anfiteatros universitários, é difícil fazer aceitar a ideia de que o respeito e a tolerância entre civilizações não implicam necessariamente a sua compatibilidade ou a sua coexistência pacífica.
A ideia que prevalece é a contrária: desde que duas perspectivas culturais diferentes se respeitem mutuamente, podem conviver entre si sem problemas.
O que, infelizmente, não é verdade em todos os casos. Porque algumas culturas são hipersensíveis às manifestações normais de outras, e portanto a sua proximidade gera tensões e atritos. Como agravante, o alcance intercontinental dos actuais meios de comunicação veio acrescentar uma nova dimensão ao problema: agora, mesmo as manifestações normais de uma cultura, nomeadamente ao exercerem o seu direito de crítica sobre as restantes, podem ser, mesmo a grande distância, fonte desses atritos e tensões. É o que vimos acontecer com o episódio extremamente revelador das caricaturas de Maomé publicadas na Dinamarca, que provocaram manifestações e motins em quase todo o mundo muçulmano.
Imaginemos que cada um de nós tem o maior respeito pelas diversas culturas islâmicas. Significa isso que não nos importamos de tê-las ao pé da nossa porta? Até ver, uma coisa não implica a outra. Significa que, mesmo a contragosto, nos devemos dispor a aceitar a sua vizinhança? Também não. Significa que, por recíproco respeito pelas nossas nuances culturais, os imigrantes vão querer praticar os nossos costumes e tradições em vez dos seus? Muito menos.
A atitude recíproca de respeito entre as diversas culturas, mesmo quando existe, não resolve as suas incompatibilidades. E não resolve, logo para começar, as insolúveis.
É possível, numa mesma sociedade, conseguir uma perfeita coexistência entre os nativos que defendem a absoluta igualdade de direitos das pessoas e os imigrantes que querem pôr em prática direitos diferentes conforme o sexo e a religião? Entre os que defendem o direito da mulher ao prazer sexual e os que praticam a mutilação genital feminina? Entre os que proíbem a justiça por suas próprias mãos e os que se sentem obrigados pela sua tradição a cometer os chamados "crimes de honra"? Entre os que há muito separaram a Igreja e o Estado e os que não conseguem conceber nem isso nem a política separada da religião? Entre os que se habituaram a viver no meio da diversidade confessional e do ateísmo e os que ainda estão predispostos a condenar à morte os hereges e os apóstatas? Entre os que aceitam sem violência que se possa caricaturar Deus e os que provocam motins por se caricaturar um profeta? Entre os que condenam a bigamia como crime e os que reivindicam a poligamia como um direito religioso? Entre os que acatam um horário de trabalho estandardizado e os que exigem cinco pausas diárias para a oração? Entre os que respeitam a plena liberdade das mulheres e os que pretendem mantê-las em situação de perpétua menoridade jurídica? Impossível. Não há nenhum sistema legal que possa acolher tão diferentes sistemas de valores e dar-lhes igual protecção jurídica e policial. Alguns valores são absolutamente incompatíveis.
Enquanto uma cultura imigrante tem uma expressão reduzida e vive acantonada em bairros étnicos, a coisa passa. Quando atinge uma expressão demográfica tal que já reivindica direitos de cidadania em moldes completamente diferentes dos que nós praticamos, a coisa muda de feição.
Cuidado, portanto. Os imigrantes problemáticos reproduzem-se a uma taxa muito superior à nossa e os ilegais continuam a entrar facilmente pelas nossas fronteiras escancaradas.