quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

A importância da indústria

Em muitos quadrantes de opinião, a terciarização da economia é vista como uma coisa boa. Consiste ela em o sector dos serviços ganhar um peso percentual crescente nas actividades económicas de um país, em detrimento da produção de bens agrícolas e industriais. É vista como um sinal de progresso, de avanço, de maturidade no desenvolvimento.
Será mesmo assim? Bem, depende do ponto de vista. Quando um país desenvolve o seu sector de serviços sem prejudicar ou desprezar os restantes, isto é, sem descurar a produção de uma parte substancial do que consome ou do que pode exportar, não vem daí nenhum mal ao mundo, antes pelo contrário. É algo que acresce ao que já se fazia antes e, portanto, uma conquista, um ganho, um crescimento.
Mas a óptica inversa já não é necessariamente verdadeira: quando se encara como um fenómeno normal e inelutável o encerramento ou a deslocação de indústrias para o estrangeiro, onde a mão-de-obra é mais barata e menos protegida, sem porfiar em combater a todo o preço tal tendência, algo pode estar bastante errado na visão dos dirigentes e dos analistas.
A razão é esta: a indústria é, de longe, o sector mais permeável à incorporação de tecnologia em grandes doses, o mais veloz na inovação, o mais concorrencial na conquista de mercado. É, de longe, aquele que se transforma e actualiza a um ritmo mais acelerado, onde a própria escala de produção torna bastante mais sensível o impacto de qualquer inovação. É, por tudo isso, aquele onde continuadamente se registam os maiores ganhos de produtividade, até porque a recompensa de qualquer avanço tecnológico ou organizacional tende a ser aí substancialmente maior.
Sabendo nós que, historicamente falando, o aumento dos salários tende a andar atrás dos ganhos de produtividade, não parece muito boa ideia deixar ir escapando aos poucos para outros países as actividades produtivas de um sector que é o que detém o maior potencial para a elevação dos rendimentos individuais. Parece até, falando grosso e depressa, uma asneira crassa.
Olhe-se em volta para esse vasto mundo e depressa se conclui que os países que hoje mais progridem economicamente, aqueles onde mais depressa aumenta o nível médio de vida, onde os salários crescem a um ritmo mais veloz e os produtos internos embaratecem mais ou encarecem menos, em termos relativos, são precisamente aqueles que mantêm ou incentivam uma indústria florescente, modernizando-a e expandindo-a em várias direcções.
Não é por acaso. A indústria pode parecer a muitos uma coisa do passado, a ponto de se deixarem seduzir pelos presumíveis encantos de uma sociedade pós-industrial, mas a produção de bens não foi tornada obsoleta pela produção de serviços, sob ponto de vista nenhum. Nos últimos dois séculos, sempre foi a indústria que mais elevou o nível do bem-estar colectivo e do desafogo económico. Quem procura a "modernidade" em economia, bem como o crescimento sustentado dos salários, talvez precise de analisar melhor onde as modernas tecnologias produzem o maior grau de impacto, inclusive nos aspectos sociais. Aliás, sob muitos ângulos, a interdependência entre indústria e serviços não pára de crescer. Quem tem uma sem a outra arrisca-se a ficar para trás.