Flutuando como um pedaço de cortiça à tona dos acontecimentos efémeros, ao sabor das pequenas marés que o levam e trazem, assim vai o PSD.
Nos seus bastidores acotovela-se gente que apenas pretende conquistar cargos políticos, lugares remunerados, nichos de influência ou, muito simplesmente, posicionar se melhor para a próxima oportunidade. Pelo menos que se veja ou que se oiça, já poucos defendem causas. As raras ideias que ainda estrebucham são as que se apresentam vocacionadas para a almejada reconquista do poder. Mas ao certo, ao certo, ninguém sabe muito bem o que se há-de depois fazer com ele, a não ser o tirar proveito das vantagens que proporciona.
O próprio Partido enquanto tal não sabe para onde quer ir. Tem actualmente três líderes, mas nenhuma liderança. Há quem mande na comissão política, no grupo parlamentar e no funcionamento interno do partido, mas a nau anda à deriva. O que significa que as suas figuras mais proeminentes no momento não são líderes de facto, pois só merecem esse epíteto os dirigentes que sabem definir metas e rumos, organizar, motivar, esboçar as estratégias e as tácticas, encabeçar iniciativas, pôr as tropas em movimento. Ora nada disso está a acontecer. As hostes continuam acantonadas nos seus pequenos acampamentos amuralhados, com pouco contacto e intercâmbio com o exterior, à espera que soem as trombetas para os assaltos eleitorais. O que se há-de dizer, escrever, defender, ainda não preocupa ninguém.
A um ano e tal de eleições, ninguém sabe o que o PSD defende para a reforma do sistema político, da educação, da saúde, da segurança social, da justiça, ou para estimular a actividade económica, o emprego, a investigação científica, o progresso tecnológico.
Ninguém sabe o que ele pretende para combater a corrupção, a delinquência, a criminalidade violenta, a guerra civil no trânsito, a imigração ilegal, a degradação do património ou do ambiente.
Ninguém vislumbra qual é a sua visão para a construção europeia, para o ordenamento do território, para a harmonia social, para a revitalização do interior.
É um partido neste estado que pretende no ano que vem desafiar o seu rival no poder, conquistar-lhe a maioria absoluta sem coligações, desalojá-lo dos muitos lugares apetecidos na administração e nas empresas públicas.
Aliás, há duas décadas que o PSD não actualiza sequer o seu programa político, como se isso não fosse necessário para nada. E para quem, em política, está apenas habituado a fazer o que se chama navegação à vista, não é. Basta ir espreitando os acidentes da costa e os recifes em volta. Quanto ao destino a atingir, logo se verá. Se é que é mesmo necessário saber para onde se ruma…
Assim vão as coisas nesta província do reino da parvónia.