Terão razão as várias lengalengas humanitárias que se rebelam contra a recusa de um visto de permanência no país a muitos dos estrangeiros que o solicitam? Será assim tão condenável escolher aqueles a quem damos permissão para ficar?
O objectivo de uma imigração selectiva não é penalizar preconceituosamente certas categorias de imigrantes, seja pelas suas origens étnicas ou convicções religiosas, seja por desfasamentos linguísticos ou falta de qualificações profissionais. Não se trata essencialmente de afastar, denegrir, recusar, embora essas possam aparentemente surgir como consequências incontornáveis, porque quando se escolhe algo, rejeita-se algo, quando se valoriza uma opção, desvaloriza-se outra.
O objectivo de uma imigração selectiva é promover um equilíbrio interno: entre a procura afluente de trabalho e a oferta disponível, entre as competências requeridas pelos empregadores e as qualificações comprovadas pelos potenciais candidatos, entre as carências regionais e os afluxos territoriais de mão-de-obra, entre as necessidades previsíveis e os contingentes admitidos, entre a cultura anfitriã e os costumes sociais dos recém chegados, entre as leis vigentes no país e o grau de predisposição conhecido das várias comunidades estrangeiras para acatá-las, entre as diversas expressões linguísticas divergentes e a defesa intransigente da língua nacional unificadora. Além do mais, porque essa distinção também conta, é indispensável velar por critérios de alguma proporcionalidade razoável entre a imigração com motivação laboral e a de simples reagrupamento familiar.
Há equilíbrios demográficos, religiosos, étnicos, culturais, económicos e linguísticos a preservar. O fluxo indiscriminado de gentes das mais variadas proveniências e civilizações pode fragilizá-los ou até destruí-los. Esses equilíbrios foram penosamente conseguidos após séculos de dolorosas vicissitudes históricas. Não passa pois de pura inconsciência colocá-los levianamente em risco, omitindo de propósito o facto de que nem todas as imigrações são iguais, nem na sua composição nem nos seus efeitos.
Aqueles que ingenuamente defendem que os países abastados deveriam limitar se a abrir escancaradamente as fronteiras a todos os desesperados e ambiciosos que anseiam encontrar acolhimento e trabalho bem pago, seja com que sacrifícios for, esquecem a colossal desproporção entre os recursos escassos de cada economia e os muitos milhões de interessados em procurar nela o seu recanto providencial, ou entre a limitada capacidade de absorção das nossas culturas consolidadas e a extrema incomodidade e virulência de certos costumes invasores, isto para já não falar dos inevitáveis recuos na segurança interna e nos níveis de civismo.
Deveria ser claro para todos que a Europa não pode albergar todo o Terceiro Mundo, nem sequer uma parte significativa dele. A dupla solução consiste em seleccionar dentro e investir fora. Em escolher a imigração que nos convém e promover mais desenvolvimento e oportunidades na sua terra para os que não podem vir e ficar. Que mais de razoável se pode fazer além disto?