Nada me parece mais errado. Seria menosprezar o papel da ignorância, da superficialidade, das convicções grosseiras e apressadas que o senso comum é exímio em urdir. De facto, muitas das coisas que se pensam erradamente nada têm a ver com o interesse pessoal ou a parcialidade deliberada. Derivam, muito simplesmente, de uma óptica deficiente das coisas.
Não há grandes motivos para excluir em absoluto destas considerações o muito que se tem dito e escrito sobre as migrações. As fontes de erro, neste caso, continuam a ser essencialmente as do costume; as suas consequências, essas é que podem vir a ser muito piores em grau do que o habitual.
Muita gente bem-intencionada tem preferido ver nos fenómenos migratórios apenas deslocações massivas de populações fugindo à miséria, providenciais acréscimos de mão-de-obra e de vitalidade demográfica nos países anfitriões, miscigenação cosmopolita de culturas, et cetera. A outra face da mesma moeda consiste em desvalorizar o choque de civilizações, a explosão da criminalidade, o aumento notório da insegurança, a proliferação dos bairros suburbanos degradados, o recrudescer da conflitualidade civil. De um modo geral, recusa-se associar uma coisa à outra ou, em alternativa, condescende-se em aceitar que tais consequências indesejáveis não passam de um pequeno mal necessário e transitório que terá o seu fim com a fatal integração futura dos imigrantes. E como sustentáculo comum destas suposições, qual cereja em cima do bolo, encontramos o pressuposto dogmático de que as várias culturas são apenas diferentes, mas não incompatíveis.
Porque não é politicamente correcto, apesar de óbvio, torna-se hoje difícil sustentar que as migrações não são todas iguais, nem na sua composição nem nos seus efeitos. Porque o que isto quer realmente dizer não é tão-só que elas são diversas e contrastantes, mas que provêm de regiões com níveis de civilização distintos. E conforme estes sejam mais ou menos atrasados, sob múltiplos aspectos, varia enormemente o seu impacto.
Uma das consequências das migrações incontroladas tem sido o de infectar sociedades evoluídas com focos perigosos de retrocesso civilizacional. As sucessivas ondas de imigrantes não assimilam ávida e apressadamente os padrões culturais e cívicos dos países anfitriões; pelo contrário, destilam para eles, de um modo persistente e duradouro, as influências multifacetadas do seu atraso, num grau mais do que proporcional ao crescimento da sua expressão demográfica.
Quando chegam, os imigrantes não trazem apenas mão-de-obra e aumento populacional, trazem também mentalidades, preconceitos, atitudes, costumes, intolerâncias, violências e conflitos que as sociedades evoluídas nem sequer estão bem preparadas para enfrentar, porque lhes são culturalmente estranhos e institucionalmente desajustados. Esse é o perigo.