domingo, 9 de março de 2008

As prioridades na educação

Cabe na cabeça de alguém medianamente sensato (já não digo lúcido) que os responsáveis governamentais venham agora importunar e perseguir os professores com absurdas e burocráticas exigências de avaliação do desempenho, que se adivinham desde já totalmente improdutivas, quando sucessivos e incontáveis governos, incluindo o actual, têm vindo propositadamente a baixar o nível de exigência sobre os estudantes, que são aqueles em quem ela deveria recair em primeiríssimo lugar?
Tem cabimento pedir cada vez mais aos professores, quando se exige cada vez menos aos alunos?
Parece que não houve nada que não se inventasse já para reduzir artificialmente o insucesso escolar, em detrimento das aprendizagens e em benefício das estatísticas. Só falta os professores que reprovam alunos terem processos disciplinares, serem despedidos ou enfrentarem o pelotão de fuzilamento.
Estamos a tentar tapar o sol com a peneira.
Em mais de trinta anos de regime democrático, sucessivos ministérios de variados quadrantes não têm sabido reformar currículos, actualizar programas, modernizar as recomendações metodológicas, melhorar os sistemas e as escalas da avaliação. Ora, antes de mais, é disso que a educação precisa.
Quanto à pretendida melhoria de desempenho dos docentes, ela resultará em parte, necessária e indirectamente, de uma maior exigência na avaliação dos alunos. Noutra parte, resultará da modernização tecnológica dos meios educativos. Noutra parte ainda, provirá de um bom sistema de formação contínua dos professores, que nenhuma equipa ministerial até hoje soube conceber e pôr em prática. E por fim, de forma meramente residual, resultará de um bom sistema de inspecção do funcionamento escolar.
Se, conseguido tudo isto, um qualquer processo de avaliação do desempenho individual dos professores ainda puder acrescentar algum efeito útil que justifique a exorbitância dos seus custos, eu ficarei muito surpreendido. Mas até prova em contrário, uma tal pretensão goza da presunção de redundância. É um enorme desperdício de energias e de meios que se poderia canalizar para outros fins, com muito mais eficácia e proveito.