segunda-feira, 10 de setembro de 2007

O nivelamento por baixo

De vez em quando, é necessário fugir às análises demasiado gerais e especificar em detalhe o que não vai bem em certos domínios. Porque as análises gerais apenas podem apelar a uma inversão de valores e objectivos, mas só o confronto com o detalhe nos sugere as soluções possíveis.

No caso da educação, algo que está fundamentalmente errado é a falta de exigência nos programas, nos manuais e nos sistemas de avaliação.

Os programas de diversas disciplinas escolares têm sido cada vez mais simplificados e reduzidos, de modo a torná-los compatíveis com as reais ou supostas deficiências acumuladas dos alunos, que vão desde a leitura à interpretação, das bases fundamentais de cada matéria à cultura geral que já deveria estar implícita no respectivo grau de ensino. E a tendência lastimável tem sido a de se irem expurgando, não as matérias menos relevantes para uma formação geral ou específica, mas aquelas que se reputam mais densas e complexas e que, portanto, suscitam maiores dificuldades de aprendizagem.

Os manuais livremente escolhidos pelas escolas, apesar da diversidade que o mercado oferece, são tendencialmente os que se consideram mais fáceis de ler e manusear, independentemente da sua qualidade intrínseca, ou que vêm acompanhados de um certo aparato de planificações e exercícios que facilitam a vida aos professores. Não está pois em causa o nível máximo de preparação a que qualquer alternativa pode alcandorar os estudantes, mas o nível mínimo capaz de ser assimilado por todos sem excepção.

Quanto aos sistemas de avaliação, pelo menos até ao termo dos estudos secundários, estão actualmente concebidos para que não haja reprovações ou para que as poucas realmente inevitáveis surjam como uma anomalia, uma excepção à regra, um clamoroso fracasso da escola ou uma incúria dos professores, a quem unicamente devem ser pedidas todas as responsabilidades. Por presunção dificilmente elidível, a culpa nunca é das deficiências, das incapacidades ou das negligências dos estudantes, da sua falta de empenho ou de mérito, da sua ausência de esforço e de persistência. Neste último caso, e ao contrário do que sucede com o respectivo corpo docente, os réus estão sempre inocentes até prova em contrário; e a prova, se a houver, nem sequer é de bom tom apresentá-la ou, sequer, admiti-la. Acrescente-se ainda que há uma miríade de disposições legais e procedimentos administrativos predestinados a evitar que uma reprovação, caso a haja, produza efeitos relevantes.

Tudo isto conduz, inevitavelmente, a um nivelamento por baixo. E esse nivelamento não significa pôr tudo ao alcance da mediania, porque esta, por definição, situa-se no meio da escala dos desempenhos. Nivelar por baixo significa que, para evitar reprovações, se coloca o nível de exigência abaixo da mediocridade, ao alcance da absoluta falta de jeito ou de aptidão, prejudicando assim a própria mediania, a quem não se concede formação ao nível das suas próprias capacidades.

Há várias maneiras de tornar a educação acessível a todos. Mas esta, decididamente, não serve.