terça-feira, 4 de setembro de 2007

A desvalorização dos diplomas

Não resisto a uma citação do novo presidente francês: "Que França vamos nós deixar aos nossos filhos? A que filhos vamos nós deixar a França? O que vem a dar no mesmo, pois que tudo dependerá do que tivermos sido capazes de lhes transmitir, da educação que lhes tivermos dispensado, dos valores que lhes tivermos feito partilhar, do exemplo que lhes tivermos dado."

Creio que estas palavras se aplicam a qualquer outro país. Mas receio que, no nosso caso, o prognóstico possível seja dos piores.

O nosso sistema educativo continua a ser ufanamente, e como tal consensualmente reconhecido, o pior da União Europeia. É mesmo pior, diz-se e demonstra-se, que o de alguns outros países supostamente mais atrasados que ainda são meros candidatos potenciais a juntar-se à União. A torrencial quantidade de pequenas e grandes reformas administrativas e curriculares com que o têm constantemente mimoseado, durante mais de trinta anos, pouco mais tem conseguido fazer do que ampliar-lhe as falhas ou metamorfoseá-las. E como denúncias e diagnósticos correctos não faltam por aí, deduz-se que o pelouro não teve ainda a sorte de cair nas mãos de um ministro que soubesse realmente o que andava a fazer, pelo menos no que toca à eficiência pedagógica do próprio sistema como um todo.

Aqui ao lado, os espanhóis andam a lucrar bastante com isso e devem rir-se discretamente de nós, a julgar pela quantidade de estudantes portugueses que se inscrevem nas universidades deles e pela quantidade de licenciados deles que vem encontrar emprego cá, não o tendo conseguido lá, pelo menos na sua especialidade. Mesmo com tais evidências, os erros e os anacronismos continuam por corrigir.

Na sua generalidade, o nosso sistema educativo padece de um absurdo nivelamento por baixo, de uma crónica falta de exigência e de seriedade que é subtilmente disfarçada apenas para gáudio das estatísticas, de uma incultura galopante que vai alastrando até à própria formação de professores, de esquemas curriculares que são já apenas o fruto da tradição e da inércia, de sistemas de avaliação deficientes e mediocrizantes, de falta de manutenção e de equipamentos modernos nos estabelecimentos de ensino, de uma desmoralização doentia dos próprios corpos docentes. Não há incentivos práticos para a qualidade e para a excelência, para a iniciativa inovadora, para uma cultura de resultados reais e não apenas fictícios. Está em franco declínio o respeito pelos professores, o seu prestígio e até a sua segurança pessoal e profissional.

Do lado dos estudantes, fomenta-se o expediente e a facilidade, a habilidade de progredir sem saber, a desvalorização do próprio saber em relação ao simples cumprimento das formalidades escolares.

Não nos admiremos, portanto, se o resultado final disto é a desvalorização dos diplomas.