segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Voltar a exigir

Feitas previamente as críticas à falta de exigência nos programas, nos manuais e nos sistemas de avaliação dos nossos estabelecimentos de ensino, resta agora propor algumas soluções.
É preciso repor nos programas escolares tudo aquilo que é conveniente saber para obter uma formação sólida, seja qual for o seu grau de dificuldade, e não apenas o estritamente indispensável, na óptica claudicante de um piedoso “programa mínimo”. Dentro de um plano sistemático de progressão, os programas devem ser coesos e abrangentes, capazes de proporcionar um domínio suficiente das respectivas matérias e, acima de tudo, devem ser integralmente cumpridos.
E mais: tudo o que é ensinado deve ser avaliado. Fica pois fora de questão poder secundarizar ou isentar de avaliação as matérias mais difíceis, ainda que importantes, apenas para evitar reprovações. Para inviabilizar facilitismos e habilidades, isto requer regulamentação minuciosa e controlo severo pelos órgãos pedagógicos das escolas, quer sobre o cumprimento integral dos programas, quer sobre a sua avaliação exaustiva.
Quanto aos manuais, devem ser objecto de um concurso nacional periódico e seleccionados apenas dois ou três por cada matéria, sendo a selecção feita por um escol intelectual reconhecido nas respectivas especialidades e nas correspondentes áreas de docência, e não por meros burocratas ministeriais. Ao evitar-se assim a inútil proliferação de manuais possíveis para cada disciplina, poderá também impor-se um abaixamento dos respectivos preços, propiciado pelo substancial aumento das tiragens e pela drástica redução dos custos unitários.
Mas é nos sistemas de avaliação que está o factor crítico da exigência. Não sendo deficientes nem mentecaptos, a esmagadora maioria dos estudantes adaptará o seu grau de esforço ao grau de exigência da avaliação. Não é um mero palpite, trata-se de uma resposta adaptativa natural. Exactamente como acontece noutros sistemas educativos que funcionam melhor do que o nosso.
Em primeiro lugar, há que deixar cair todos os expedientes e artifícios em vigor que permitem que uma classificação negativa em determinada disciplina possa ser compensada por subtis mecanismos de médias, arredondamentos, ponderações e critérios mais ou menos flutuantes. Uma classificação negativa é algo que só deve poder ser redimido por uma posterior classificação positiva na mesma disciplina ou, em certas circunstâncias excepcionais, numa disciplina considerada alternativa, se daí não resultar prejuízo irreparável para a área curricular frequentada.
Em segundo lugar, deve ser dada primazia obrigatória ao rigor das avaliações quantitativas, ainda que se não dispensem as outras. E em caso algum se deve permitir que o aproveitamento inferior a cinquenta por cento do exigido, seja em avaliação escrita ou oral, possa ser convertido em aprovação, transição de ano ou conclusão de currículo.
Em terceiro lugar, há que devolver ao ensino básico um sistema de classificação mais rigoroso, idêntico ao do ensino secundário, como dantes era tradição, e que os preconceitos melífluos da "não discriminação" resolveram abolir. Em educação, é preciso discriminar, ou seja, dar a cada um segundo o seu mérito.